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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Nós...


Dizes-me dos sonhos, que são nuvens cor de rosa. Dizes-me do sorriso, que é luz. Cheiras bem, macio e doce. Abraças-me e estás aqui. Para sempre, bem sei, como a tatuagem. Sabes ao amor, que se faz de pequenos nadas e tu, nós, somos o mundo. Só sabia ser grande e tu, sou-te grata, ensinas-me a ser pequenina.

E tu, de mão na cinta, minha preta que desafia a vida... Tens a arte da melhor das melhores gerações de mulheres quando de cartão e de fios me dás princesas e fadas; para tomar conta de ti, dizes-me. Tu e eu esticamos a corda à vez a medir força e não admira: somos mulheres de guerra, das que aos setenta ainda carregam sacos de batatas e racham lenha.

A vida e o mundo somos nós, os três. Perfeito. Mesmo quando cá em casa, protesto, quem manda sou eu. Mentira. É mentira, mandam vocês dois, desde o primeiro dia...



Estrela Azul


Voltei a sonhar contigo. Estás aqui e abraças-me. Sonho tantas vezes e falta-me o ar. Quando é assim, enrolo-me em ouriço e, de barriga para baixo, fecho os olhos e penso: "adormece, volta para o sonho, sonha com o mesmo." Não consigo, quem dera.


Hoje já uso óculos porque tem mesmo de ser. Não vejo os parafuso para colocar plaquetas: estou velha. Também tenho cabelos brancos, muitos, mesmo na frente. Escapei às varizes, mas só porque caminho muito; vê lá tu que chove torrencialmente e venho a pé para a loja e regresso a casa na mesma...


No resto, sou parecida contigo, há quem diga. Os gestos, o sorriso. Sorrio muito, sabes, todos os dias! Mesmo quando tenho mais dores: acredito que te traz para aqui. Também caminho como tu, pesada, e cruzo os braços em frente ao peito para conversar. Manias...


Os portões ainda abrem todos os dias religiosamente às 7h30 da manhã. Mas a carrinha já não é branca. Nem lá vais tu. Então não espreito. Passaram mais de três anos e ainda te quero ver mais uma vez. Por isso, à noite, antes de deitar, peço às estrelas da guarda para sonhar.


Porque no fundo, conversar contigo, assim, só, não chega. Apesar de não ter medo de estar sozinha, de ir para casa de noite pelo meio do Bairro, (nem dos ciganos tenho medo, vê lá tu!) preciso de ouvir-te dizer-me que tudo se resolve, como só tu sabes, com os teus olhos cinzentos tão pequeninos e brilhantes, que mais ninguém tem...

Então, de vez em quando, elas fazem-me a vontade, não quando eu quero, mas quando preciso... E sonho que me abraças. A bênção do dia do Crisma, lembras-te? Obrigada...